segunda-feira, 22 de abril de 2013

Pesquisa traça história do vírus da denguetipo2

Resultados indicam grande variabilidade genética e circulação de diferentes linhagens, o que eleva o risco de epidemias e dificulta a criação de vacinas


Antonio Scorza/AFP
Soldado brasileiro exibe uma amostra de água contendo larvas do Aedes Aegypti, mosquito transmissor da dengue
Soldado brasileiro exibe uma amostra de água contendo larvas do Aedes Aegypti, mosquito transmissor da dengue
São Paulo - Uma pesquisa publicada na revista PLoS One mapeou, no Brasil, a história evolutiva do sorotipo 2 do vírus da dengue (DENV-2) – uma das quatro espécies transmitidas ao homem pelo mosquito Aedes aegypti .

Os resultados revelam a circulação simultânea de diferentes linhagens de DENV-2 no país, o que pode estar associado a um maior número de surtos epidêmicos e de manifestações graves da doença quando comparado aos outros três sorotipos da dengue. A existência de uma maior variabilidade genética entre o DENV-2 também tem sido apontada como causa do insucesso em testes com vacinas.
Para mapear a diversidade filogenética e filogeográfica do vírus, ou seja, o caminho evolutivo trilhado em diferentes regiões do país, pesquisadores da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, realizaram o sequenciamento completo de 12 amostras de DENV-2 de pacientes atendidos em São José do Rio Preto durante a epidemia de 2008. Os dados foram comparados com amostras de bancos de dados genéticos de dengue do Brasil e do mundo.
O trabalho foi coordenado por Mauricio Lacerda Nogueira, do Laboratório de Pesquisas em Virologia da Famerp, e contou com financiamento da Fapesp e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e apoio da Secretaria de Saúde de São José do Rio Preto e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Dengue.
“Dentro de cada uma das quatro espécies de vírus causadoras da dengue existem diferentes genótipos. Dentro de cada genótipo ainda há variações genéticas que chamamos de clados ou linhagens. Nossos dados mostram que três diferentes linhagens de DENV-2 entraram no Brasil nos últimos 30 anos e todas elas pertencem ao genótipo Americano/Asiático”, disse Nogueira.

sexta-feira, 19 de abril de 2013


Eugênio Vilaça fala sobre novo livro O Cuidado das Condições Crônicas na APS

junho 6, 2012 
Para o autor, a Atenção Primária tem uma longa história no sistema público de saúde brasileiro que se inicia na primeira metade do século passado até chegar ao Programa da Saúde da Família (PSF). A análise do PSF mostrou que essa política de atenção primária foi um sucesso dentro dos limites em que ela se desenvolveu.  Contudo, a permanência de problemas estruturais não solucionados fez com que esse ciclo evolutivo do PSF se esgotasse. Para Vilaça, é necessário inaugurar um novo ciclo que vai se caracterizar pela consolidação da Estratégia da Saúde de Família (ESF). No livro, ele aponta os problemas estruturais que impedem a APS de ser resolutiva e ordenadora das Redes de Atenção à Saúde (RAS’s) e sugere soluções para cada um desses problemas.
Eugênio Vilaça descreve ainda, nessa obra, as principais mudanças na APS para o manejo das condições crônicas e traz experiências nacionais e internacionais de instituições de saúde que ousaram mudar o modelo de atenção. Saiba mais nesta entrevista exclusiva que Eugênio Vilaça concedeu à equipe do Portal.
1 – O que motivou a escrever o livro O Cuidado das Condições Crônicas na Atenção Primária à Saúde?
Eugênio Vilaça – São dois motivos básicos: primeiro é a dimensão da expansão das doenças crônicas e, outro, a crise fundamental do Sistema Único de Saúde (SUS). A crise do SUS possui, de um lado, um componente de subfinanciamento muito forte, mas há outro, que mesmo tendo mais dinheiro não adiantaria que é a crise do modelo de atenção à saúde. Essa crise surge nos últimos 60 anos em função da mudança muito rápida tanto na transição demográfica como na situação epidemiológica. Na metade do século passado, quase metade das mortes eram decorrentes das condições agudas e hoje o percentual está abaixo de 5%.  A situação de saúde, nesse período, caracterizou-se por um envelhecimento muito rápido da população e um aumento muito grande das condições crônicas em geral e das doenças crônicas em particular. E o SUS não se adaptou a isso. Ainda temos uma situação de saúde com tripla carga de doenças, com doenças infecciosas e parasitárias convivendo com causas externas e com a grande hegemonia de doenças crônicas. Paralelo a isso, o sistema que praticamos ainda é um sistema gerado na metade do século passado voltado para as condições agudas. Isso não deu certo nos países ricos e não está dando certo aqui. Então, essa dimensão mais ampla, mais macro, repercute muito forte no ambiente micro, na forma como a clínica é feita, especialmente, a clínica médica. Esse sistema fragmentado, reativo, episódico e voltado para condições agudas e para as agudizações das condições crônicas não dá conta da hegemonia das condições crônicas. No plano micro, tal como revela a experiência internacional visitada no livro, a clínica dos eventos agudos não pode ser transplantada automaticamente para a clínica das condições crônicas. A resposta para essa crise no plano macro foi apontada com o livro sobre Redes de Atenção à Saúde (RAS’s) que mostra a necessidade de superar o sistema fragmentado, reativo, episódico por um sistema integrado, proativo e contínuo e que dê conta das condições agudas e das crônicas. As RAS’s já estão na agenda do SUS, na legislação e agora começa a ser implantada no Brasil. A experiência recente de implantação das RAS’s mostra que a maior dificuldade não está na média e alta complexidade, como o senso comum indica, mas na organização da APS para que ela resolva 85% dos problemas e para que ela ordene a RAS. Sem uma APS forte as RAS´s não operam. Acho que esse é o dilema que está no Brasil agora.  Há uma dificuldade muito grande de se entender isso. Há uma fixação muito grande nas políticas de média e alta complexidades. A APS que nós praticamos não dá conta da epidemia das condições crônicas.
2 – O que une e difere entre este livro que será lançado em abril e o último sobre Redes de Atenção à Saúde, disponível no Portal para Gestores?
Eugênio Vilaça – O que une um livro ao outro é o modelo de atenção à saúde. Tanto que eu trago neste livro muitas partes do livro anterior. Pode até dar impressão a quem ler de que seja o mesmo livro, mas não é. No outro livro eu discuti o modelo de atenção à saúde em função das RAS´s e neste eu discuto o mesmo modelo mas com um foco específico na APS. Faço uma análise da situação da APS desde 1920 até hoje, identifico sete ciclos durante esse período. Eu destaco de forma substantiva as evidências científicas que confirmam o sucesso do Programa Saúde da Família (PSF). Há muita produção acadêmica mostrando que o PSF é melhor que a atenção primária tradicional. Concluo que o PSF não fracassou como muita gente pensa, mostrando resultados sanitários profundos produzidos pelo PSF. Contudo, há problemas no PSF decorrentes, não do modelo em si, mas de fatores estruturais não superados, que não permitem que o discurso oficial de transformar o PSF em Estratégia Saúde da Família (ESF) deixe o nível semântico para ser uma mudança de paradigma.
3 – O senhor afirma que o PSF não fracassou, mas está esgotado. Quais são os problemas estruturais que o senhor identifica no livro?
Eugênio Vilaça – Em um capítulo específico eu identifico 14 problemas estruturais do PSF que confluem para determinar uma baixa valorização sanitária, social e política do PSF. Para cada um deles traço uma agenda para resolvê-lo, visando uma APS resolutiva e ordenadora das RAS´s. São problemas que envolvem questões ideológicas de concepção da APS; problemas de infraestrutura, porque apenas 25% das Unidades de Saúde tem infraestrutura mínima para operar; de relações de trabalho, com a maior parte dos profissionais com contratos precários; problemas da educação, tanto na graduação, que forma profissionais na perspectiva da especialização, quanto na pós-graduação, com apenas 10% dos médicos com residência em medicina da família e da comunidade; fragilidade institucional; baixa densidade tecnológica; carência de equipes multiprofissionais; ausência de prontuários familiares eletrônicos; problemas gerenciais; fragilidade do controle social no âmbito local; e problema de financiamento muito reduzido, enfim são grandes problemas que não foram solucionados e que impedem a consolidação da ESF.
4  – Quais as principais mudanças na APS para o enfrentamento das condições crônicas?
Eugênio Vilaça – Primeiro é necessário superar os problemas estruturais que descrevo no livro e ter uma atitude diferenciada. Um problema complexo não admite uma solução única, mágica, rápida. Problema complexo convoca uma solução complexa, sistêmica, demorada e não muito barata. O livro está muito focado no manejo das condições crônicas na APS. O capítulo gira em torno do modelo de atenção às condições crônicas (MACC) que eu desenvolvi no livro de RAS, que no fundo é uma composição entre três modelos: o modelo de atenção crônica do MacColl Institute, o modelo da pirâmide de riscos e o modelo da determinação social da saúde de Dahlgren e Whitehead.  O MACC aplicado à APS tem cinco níveis: da promoção da saúde, da prevenção das condições crônicas, da clínica das condições crônicas menos complexas, das condições crônicas mais complexas e das condições crônicas muito complexas. Os dois primeiros atuam antes que condições crônicas se estabeleçam; os três outros constituem intervenções clínicas sobre condições crônicas estabelecidas. Aí mostro que essa clínica da nova APS, a ESF, tem que passar por mudanças profundas. Para isto, listo alguns movimentos que precisam ser feitos para transformar essa clínica. Por exemplo, da atenção centrada na doença para a atenção centrada na pessoa; da atenção centrada no indivíduo para a atenção centrada na família; a busca de um equilíbrio entre a atenção à demanda espontânea e a atenção programada; a introdução de novas formas de atenção como atendimentos em grupos e à distância; o fortalecimento do trabalho multiprofissional da ESF com a introdução, como membros das equipes de novos profissionais como o assistente social, o farmacêutico clínico, o fisioterapeuta, o nutricionista, o psicólogo e o profissional de educação física.  O livro mostra que APS é muito complexa, mais complexa que atenção secundária e terciária. Essa complexidade exige uma nova forma de gestão, porque hoje mais de 90% das UBS não têm um gerente, um profissional de nível superior. A proposta é criar a figura do gerente da APS com dedicação integral, com curso de gerência para a APS. A outra proposta é introduzir as tecnologias de gestão da clínica, especialmente, as diretrizes clínicas baseadas em evidência, a gestão da condição de saúde e a gestão de caso. Essa é um pouco a idéia do livro.
5 – Mas qual característica essencial do modelo de manejo das condições crônicas na APS que o senhor destacaria?
Eugênio Vilaça – Destaco três características essenciais. Primeira, a questão da gestão baseada na população que vai substituir o modelo hegemônico no SUS da gestão da oferta. Segunda, a estratificação de riscos. Hoje o PSF não estratifica o risco de portadores de condições crônicas. Maneja-se um portador de hipertensão de baixo risco da mesma forma que um portador de hipertensão de alto risco. Isso é um desastre econômico, pois fecha a agenda do médico e do enfermeiro, e um desastre sanitário porque o hipertenso de baixo risco está indo a um especialista, o que, muitas vezes, gera iatrogenia. Então todo o manejo é feito a partir da estratificação de risco da condição crônica. Sabemos que 75% dos portadores de condições crônicas não necessitam de cuidados de especialistas; eles devem ser manejados na APS com uma baixa concentração de consultas médicas e de enfermagem, mas com concentração maior de ações de autocuidado apoiado prestadas por equipes multiprofissionais. Só uns 25% dos crônicos vão necessitar de maior concentração de consultas de médico e de enfermagem e só uma parte desses é que precisará ser referida aos especialistas. A terceira, que já me referi, é o autocuidado, o portador de condições crônicas deve ser apoiado pela equipe de saúde para se autocuidar.
6 – O livro tem em torno de 1.200 referências bibliográficas e trinta boxes com experiências de manejo de condições crônicas na APS e no exterior. No Brasil há avanços na implantação do modelo de atenção às condições crônicas?
Eugênio Vilaça – No Brasil há muita gente que está começando a pensar em mudar o modelo. Uma coisa importante foi o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis que o Ministério da Saúde lançou em 2011. Esse plano acolhe o modelo de atenção crônica que foi utilizado por mim no modelo que desenvolvi. Há experiências que são feitas no Brasil, algumas bem estruturadas como a que está ocorrendo em Curitiba. Também temos a experiência de Diadema, do Grupo Hospitalar Conceição em Porto Alegre, da Unicamp com alguns municípios da região e a do Qualidia, com 10 municípios envolvidos. São experiências recentes mais que apontam para uma melhor abordagem das condições crônicas na APS.
7 – O que os profissionais e gestores da saúde podem esperar do Laboratório de Inovações sobre Condições Crônicas na APS, iniciativa da Opas/Brasil com Conass e apoio do Ministério da Saúde, Conasems, SES PR e SMS Curitiba que está sob sua coordenação?
Eugênio Vilaça – Nós vamos acompanhar mais de perto algumas experiências do manejo de condições crônicas na APS. Já estamos acompanhando a de Curitiba que durante um ano discutiu a concepção do modelo de atenção às condições crônicas. Em Curitiba estão sendo validados alguns instrumentos como o atendimento compartilhado, chamado de “Cuco”; o ACIC e o PACIC, ferramentas que avaliam se as unidades da ESF são capazes de implantar o modelo de atenção às condições crônicas, nas perspectivas da equipe e dos pacientes; a introdução de novos profissionais. Agora, Curitiba entra na fase de uma pesquisa avaliativa em seis unidades básicas de saúde, comparadas com seis unidades controle, que será realizada por uma instituição acadêmica durante um ano, em termos de resultados intermediários em relação à depressão, hipertensão e diabetes. Então, o Laboratório de inovação vai acompanhar todo esse processo e divulgar os resultados, permitindo assim a produção de evidências e a reprodução do modelo por outras secretarias de saúde.
8 – Como se faz para sensibilizar o gestor para que esse tema entre na agenda política e técnica da secretaria de saúde?
Eugênio Vilaça – A gente só vai sensibilizar o gestor para essa questão se nós tivermos evidências. Por exemplo, Curitiba quer produzir evidências dizendo que nas seis unidades básica de saúde que implantaram o modelo foi possível controlar a hemoglobina glicada do diabético melhor do que nas unidades em que não foi implantado o modelo. Não será uma mera convocação ideológica, ainda que tenha elementos de mudança nesse campo, mas com evidências. O modelo de atenção crônica está muito testado nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e outros países, mas não no Brasil. E o livro, além da parte conceitual, também é bem didático. No fim do livro, por exemplo, apresento um check-list para direcionar o profissional de saúde na elaboração de um projeto de manejo de condições crônicas na APS.

O livro está disponível para download no Portal para Gestores sobre Redes e APS – www.apsredes.org

Avatar de Vanessa BorgesVanessa Borges
Agência de notícias do Portal Redes e APS